quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Com Obama, passado fica para trás e futuro já começou


(Artigo de Ze Dirceu na íntegra...)


O entusiasmo popular pela posse de Barack Obama hoje não tem precedentes na história dos Estados Unidos. Basta andar nas ruas, pegar metrô, táxi, ir à escola, ao trabalho, a um restaurante, conversar com o povo, para constatar o extraordinário movimento espontâneo pró-Obama, como já havia na campanha eleitoral.Pela primeira vez desde John Kennedy (1960-1963), um presidente mobiliza a juventude, os negros e negras, a comunidade universitária, os artistas, e principalmente milhões de trabalhadores e a classe média que já começaram a perder o emprego e a casa própria, além dos 40 milhões de imigrantes e pobres norte-americanos.Ontem, mais de 750 mil pessos assistiram ao show da posse, e para as cerimônias de hoje são esperados mais de 2 milhões de participantes. Para marcar sua posse, Obama e sua equipe lançaram o movimento voluntário "Organizando-se pela América", com uma ampla campanha de mídia e com ele mesmo indo a uma escola para fazer trabalho voluntário. Retoma, assim, sua marca maior que é mobilizar o povo e a que lhe deu a vitória nas prévias democratas e nas eleições.O 44º presidente da América sabe que precisará, como nunca, do apoio popular e mobilizar o país. Não terá solução a curto prazo para nenhum dos problemas que herda, a começar pelos quase 3 milhões de norte-americanos que perderam seus empregos nos últimos meses e os 2 milhões que perderam suas casas. O desemprego, o maior dos últimos 15 anos, já chega a 7,4%. O país está afundado em duas guerras, as do Iraque e do Afeganistão. Da primeira, o presidente quer sair; na segunda, quer ficar e ampliar a guerra - um erro que custará mais caro do que a do Iraque.A economia está em recessão. A dívida pública já atingiu US$ 20 trilhões, o déficit público US$ 1,2 trilhão equivale a 10% do PIB e o déficit comercial bate os US$ 500 bilhões. O governo já injetou US$ 7,4 trilhões na economia desde que começou a débâcle financeira e bancária, cujo rombo hoje é calculado em US$ 2 trilhões. Já socorreu 257 bancos, alguns nacionalizados na prática, sendo que os sete maiores receberam 60% dos US$ 350 bilhões. Entre estes sete estão os dois maiores, o Citi e o Bank of America, símbolos do outrora exuberante sistema financeiro americano.Não será fácil para os democratas e para Obama unirem, não o país, mas o Congresso americano em torno da plataforma do novo presidente. No Senado, os republicanos podem e já estão obstruindo as medidas que o próprio presidente eleito pelo partido, George W. Bush - que volta para o Texas hoje - enviou de comum acordo com Obama.O país tem que evitar a combinação de uma crise interna com uma externa. Daí a urgência de abandonar o Iraque, e o silêncio cúmplice sobre a agressão sem precedentes e violadora das leis internacionais, que Israel perpetrou contra Gaza sob os olhares impotentes de uma ONU em estado de coma. Mas não devemos subestimar o poderio militar e tecnológico dos EUA. Apesar da grave crise não só do seu sistema financeiro, mas de sua economia como um todo, o país já demonstrou nas décadas de 80 e 90 que tem reservas humanas e capacidade para superar desafios e crises.Ontem, foram a internet e a globalização que salvaram a América. Hoje, tudo indica, será uma revolução tecnológica tão importante como a da informação - a da energia limpa para substituir o petróleo (do qual os EUA são totalmente dependentes, não produzindo nem 20% do que consomem), e reduzir custos, garantindo a produtividade e a competitividade da economia americana.Obama deixou claro que priorizará a educação e a inovação, retomará a agenda ambiental, e investirá centenas de bilhões de dólares em tecnologia e energia limpa. Na economia propriamente dita, investirá na infraestrutura e na saúde e educação, retomando a agenda social - como a questão ambiental - que ficou num segundo plano nos oito anos republicanos.Mas, o novo presidente precisa de um acordo bipartidário, que ele tem buscado nesses meses que antecederam a posse, já que a crise é não só grave como não tem saídas a curto prazo e tem se agravado nas últimas semanas. Agrava-se, particularmente, a situação dos bancos e, agora, de vários outros setores da economia, alcançando o comércio que tem demitido centenas de milhares de empregados.Obama terá que cuidar imediatamente dos milhões mutuários que perderam suas casas ou podem perdê-las. Trata-se de imigrantes, dos negros, dos pobres, dos idosos e dos sem-saúde que votaram em massa nos democratas. Como vemos, uma tarefa nada fácil quando se enfrenta uma crise econômica tão grave como a atual. Mas o país tem recursos não só para ajudar bancos e empresas, como os que perderam suas casas e empregos; para diminuir os impostos e dar incentivos a trabalhadores e pequenas empresas - como Obama se comprometeu na campanha e pós-eleição - e para apoiar diretamente os mutuários e não apenas os bancos e financeiras.Na política internacional, os EUA estão frente ao desafio da reorganização do sistema econômico e institucional mundial, nascido com o fim da II Guerra e reorganizado sem consenso nos anos duros do neoliberalismo. Agora trata-se de regulamentar o capital financeiro, reorganizar as entidades internacionais (ONU, BIRD, FMI e OMC), evitar o protecionismo que tenta os americanos e faz parte do credo democrata, abandonar o unilateralismo da era Bush, num mundo onde os EUA não terão mais a hegemonia econômica e financeira, e terão cada vez menos a militar e a comercial.Aí estão a China e a Rússia para lembrar ao mundo que nada mais será como no passado e que o futuro já começou. A eleição e a posse de Obama fazem parte desta nova era. Não nos iludamos, qualquer que seja seu legado. A questão é o que prevalecerá: o Império ou a República? O legado de Roosevelt (Franklin Delano Roosevelt - 1933/1945, cujas políticas inspiram o novo presidente) ou, como no passado, o fracasso de tanta esperança?O mundo espera que prevaleça a esperança e que Barack Obama mude os EUA. Sua trajetória e eleição como 44º presidente do país são uma prova concreta da extraordinária força da nação americana, de seu povo. Afinal, quando ninguém esperava, os EUA deixaram para trás a era Bush e elegeram um negro para presidente. Um bom começo.

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